As lives que alimentaram a nossa alma Canjerê
Diante da pandemia, que infelizmente se arrasta muito além do que prevíamos e desejávamos, nos resta registrar por aqui as agendas que foram verdadeiros Canjerês em nossas almas.
Iniciamos por registrar as ações do Projeto Quilombos de Corpo e Alma, cujo empreendedor foi o artista plástico e membro do conselho editorial da nossa revista, Marcial Ávila. Ele também foi o facilitador das oficinas de criação de máscaras africanas. O Projeto, patrocinado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, que teve início do final de 2020 e encerrou-se em abril de 2021, consistiu no estudo e na criação de máscaras africanas. A ação ocorreu em interface com os segmentos da dança e da música, dois grandes potencializadores da criatividade presentes nos tradicionais festejos quilombolas.
Foi uma proposição da valorização da identidade de matriz africana, bem como uma oportunidade geradora de renda para os quilombos urbanos: Mangueiras e Manzo Ngunzo Kaiango. As oficinas contemplaram diretamente cinquenta pessoas das respectivas comunidades.
A luta e a resistência do povo quilombola na ocupação dos espaços urbanos em Minas Gerais é histórica. Em Belo Horizonte, os territórios conquistados por seus antepassados formam comunidades com vivências e aspectos culturais de grande diversidade e riqueza. A manutenção de seus territórios e de suas tradições perpetuam a existência das múltiplas manifestações da cultura afro-brasileira.
No dia 18 de março de 2021, o bailarino, coreógrafo, ator e pesquisador em cultura afro-brasileira e africana Evandro Passos recebeu um convite da Rede Solear de Dança para uma live em que o tema foi a trajetória da bailarina e coreógrafa Marlene Silva.
Evandro falou da Dança Afro como linguagem de palco que chegou por meio dessa ex-integrante do Balé Folclórico Mercedes Baptista, em meados dos anos 70. Pontuou principalmente as apresentações de Marlene Silva que aconteciam, inicialmente, dentro do sistema hegemônico em casas de espetáculos como o Palácio das Artes e o Teatro Francisco Nunes.
Passos ressaltou que antes de abrir sua escola, Marlene Silva ministrou aulas em diversas academias de dança de Belo Horizonte como a Academia Ana Pavlova, Studio Karits, Academia Internacional de Balé. Para o dançarino e pesquisador, a coreógrafa consolidou-se em BH num momento em que novas linguagens e códigos manifestavam-se e professavam-se em consonância com a emergência de novos valores no ideário da população negra graças ao Movimento Negro Unificado.
Marlene chegou a Belo Horizonte no período em que a população negra se mobilizava em termos de ações afirmativas as mais variadas: a adoção do penteado afro, a produção de audiovisuais, jornais e panfletos, a difusão de informações em feiras, sambas e locais públicos de dança e de encontro culturais nos quais a negritude estava presente, afirmou o pesquisador.
No dia 2 de maio, foi a vez de prestigiarmos o Festival Samba de Terreiro. O Projeto Samba de Terreiro, criado pelo músico, dançarino, educador e agitador cultural mineiro Camilo Gan, tem como objetivo principal levar ao conhecimento da sociedade os elementos essenciais que originaram o samba: Reza do Corpo, Toques de Tambores, Improvisação Vocal e Interatividade. O FESTIVAL SAMBA DE TERREIRO reverencia a origem do samba, evidenciando a importância da energia feminina para o surgimento e preservação desse gênero musical gerado primordialmente pela influência dos povos africanos Bantus vindos para o Brasil.
Presenças altamente potentes participaram do Festival como o pesquisador Marcos Cardoso, Dóris do Samba, a cantora Tamara Franklin, a umbandista Dayse de Yansâ, o pesquisador e radialista Carlinhos Visual, a culinarista Kelma Zenaide entre outras.