Por Roger Deff
A cantautora Elisa de Sena representa o atual momento da música em Belo Horizonte. Já se percebe uma cena com ótimos trabalhos que, nos últimos anos, tem sido protagonizada principalmente por mulheres, a exemplo de nomes como Tamara Franklin, Zaika dos Santos, Bia Nogueira, Júlia Branco, Manu Dias, Déh Mussolini, Maíra Baldaia e Nathy Rodrigues.
As duas últimas foram parceiras de Elisa de Sena no projeto Negras Autoras, coletivo que reúne mulheres negras da música na capital mineira, do qual fez parte também a percussionista Manu Ranilla, que acompanha a artista em seu primeiro vôo solo. Em 2019, Elisa estreou com seu trabalho o álbum “Cura” com produção da DJ Black Josie e apoio do selo Natura Musical.
O disco conecta a tradição afro-mineira dos tambores com a idéia “futurista” dos timbres eletrônicos e dos samplers. Não por acaso, a música que abre os trabalhos conta com a participação do mestre Maurício Tizumba. Ao longo das 11 faixas do disco que marca o início dessa nova caminhada, a artista desenvolve uma assinatura própria, sem negar as referências, mas se permitindo experimentar direções nada óbvias.
As canções propõem uma leveza necessária em dias tão densos e tensos, mantendo-se na contra-mão uma ideia de desconstrução da cultura que segue vigente no atual momento.
“Cura” é o que o nome título propõe, a anti-tese do ódio, um descanso sonoro em meio ao caos. Sem restrições, Elisa se coloca em contato com a música preta universal, sem se preocupar muito com qualquer rótulo que queiram lhe dar. E segue leve, aguerrida, como mulher negra que é, mas sem perder a alegria ancestral.
“A grana é curta, sistema é bruto, bruta batalha, mas sigo flor.” (trecho da música “Ficar só”)