Iconografia afro-brasileira: um olhar atento à negritude

Por Robson Di Brito – mestre em Humanidades e mestrando em Arte pela UEMG

A questão do negro no Brasil desde a colônia até os dias contemporâneos é um dos dilemas nacionais para um país mais igualitário na pluralidade. É esperado que a academia refletisse sobre isso. Esse é o ponto central das pesquisas do acadêmico Loque Arcanjo, um homem negro de 47 anos, filho de mãe baiana, pai mineiro e único professor reconhecidamente negro na pós-graduação em artes da UEMG-MG. Foi membro da Ordem dos Músicos da Fundação Clóvis Salgado em Minas Gerais, graduou-se em História e na mesma área fez Mestrado e Doutorado, na UFMG. Sua ligação com a disciplina data da adolescência ao ganhar do pai o prelúdio Nº 01 de Heitor Villa-Lobos. Sem uma representatividade universitária, acreditou ser natural uma obra como essa, que discutisse a diversidade brasileira e dialogasse com as matrizes africanas e ameríndias. 

Entretanto, essa visão de modernidade no Brasil não é algo natural. Isso porque foi formada após a consolidação da Lei 10.639, sem o arcabouço jurídico para que pudesse ter um aporte respeitável para uma vivência negra brasileira. Entender esses contornos possibilitou posicionar-se contra as desinformações que tentam impedir as representatividades negras no Brasil.   

Além disso, o pesquisador atua nos grupos de pesquisa PAMVILLA na ECA/USP e no CORPUSLAB/UEMG. Seu novo projeto é a “Organização de um banco de dados de imagens e textos sobre as representações da música e dança afro-brasileira”. Trata-se de um banco de dados iconográfico com uma leitura de textos de viajantes estrangeiros e análise dessa produção. É uma interpretação de outras possibilidades de visão histórica, mas também um contraponto às visões artísticas afro-brasileiras sem um viés eurocêntrico. Seu recorte temporal, no Século XIX, se dá porque o Brasil, neste momento, torna-se uma nação civilizada pela política de branqueamento. Ou seja, tentou-se apagar a negritude na formação do Brasil. 

Loque Arcanjo e sua atuação nos faz compreender que olhar de frente a negritude é olhar para o terrível passado com dignidade de quem sabe respeitar e entender a ancestralidade que nos molda. Pesquisar e ir contra o colonialismo que ainda nos rodeia é um ato de coragem e resistência.

Foto: Dança do Batuque-Johann Moritz Rugendas – Inserções gráficas do software Label Me (Fonte Luiz Naveda)

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