Junia Bertolino celebra 20 anos de trajetória e de Cia. Baobá

Por Naiara Rodrigues

Atuando há mais de 20 anos em Belo Horizonte com corporeidades africanas e afro-brasileiras em diversos espaços como quilombos, centros culturais, universidades e comunidades, Junia Bertolino é nome indispensável quando falamos de dança negra em Minas Gerais. A presença de diferentes linguagens artísticas em seus projetos reflete a sua formação múltipla. Junia é arte educadora, bailarina afro, capoeirista, produtora cultural, jornalista e antropóloga. Como artista e bailarina, já mostrou sua arte na Itália, Senegal, Guiné Bissau, Índia, Inglaterra, Espanha, França e Alemanha.

Ao falar de sua trajetória, não deixa de reverenciar seus mestres e mestras: Evandro Passos, Carlos Afro, Dona Bela, João Bosco e Marlene Silva, grande referência precursora da dança afro-brasileira que faleceu em maio deste ano. “Ficamos com a responsabilidade de dar continuidade a esse legado. Subir ao palco há 15 anos pela primeira vez no Palácio das Artes com Marlene Silva foi muito importante pra mim”, relembra Junia, destacando que a artista rompia barreiras.

Transmitir o conhecimento adquirido e manter viva a cultura afro-brasileira é um dos pilares e está em diferentes frentes de atuação da artista que também é pesquisadora e tem uma série de livros e publicações acadêmicas. Outra delas é como arte educadora. Junia atua como professora da área de dança e patrimônio cultural da Escola Livre de Artes. “Ao falar da dança afro-brasileira e da história que ela tem, quem são os mestres, por que eles desenvolveram o trabalho, passamos por temáticas como racismo, intolerância religiosa, o reconhecimento e valorização da nossa cultura, sobretudo do negro nas artes”, afirma a artista.

Ela é idealizadora do Prêmio Zumbi de Cultura que neste ano chega a sua 11ª edição e é realizado em formato digital e reconhece personalidades negras em diversas áreas. O prêmio é realizado pela Cia. Baobá Minas da qual é fundadora e diretora, e celebra seus 20 anos de atividade na cena artística de BH. Neste ano, a companhia ganhou o Prêmio Maria Leda Martins, na categoria Oralitura, com o espetáculo “Mulheres de Baobá”. Em função da pandemia de covid-19, o Projeto “Corpo diálogo” da Cia. Baobá que estava previsto para ser realizado em 2020 precisou ser adiado. “Em 20 anos de companhia, a gente nunca tinha aprovado um projeto que contemplasse 10 integrantes com uma bolsa para ensaiar e montar um espetáculo no âmbito municipal. A expectativa era de que em novembro/dezembro estivéssemos apresentando o espetáculo, mas com a pandemia enfrentamos muita dificuldade”, explica.

Ela destaca o desafio de manter uma cia. de dança negra, uma vez que é preciso pensar formas de buscar recursos e manter os artistas ali. “O preconceito na sociedade é muito forte. As pessoas estão ligadas apenas a datas como o 13 de maio, o Dia da consciência negra. E, mesmo assim, as escolas tendo um plano pedagógico e um valor reservado para cultura, a negra é sempre procurada naquele discurso de lamúria”, avalia. Em 2020, Junia Bertolino também se dedicou a sua carreira solo com lançamento de vídeo-dança em editais estaduais e da Funarte, além da participação do programa Retratos da Dança Fora do Palco da Rede Minas. As apresentações ficarão disponíveis no Youtube da artista (clique aqui para acessar) e da Cia. Baobá (clique aqui para acessar).

Fotos: Ricardo Laf

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