Pensar o corpo como uma potência social e política foi a proposta da 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes
Por Naiara Rodrigues – Jornalista
Com tema “Corpos Adiante”, a 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes refletiu sobre a presença de corpos diversos nas salas de cinema e em possibilidades de futuro. A homenageada foi a atriz, diretora e dramaturga Grace Passô que teve sua trajetória teatral e cinematográfica revisitada em exibições, debates, sendo um dos destaques a estreia do média-metragem “Vaga Carne”, uma transcrição de sua premiada peça homônima para a telona. “Não se vive sem arte. O cinema e a arte brasileira precisam entender a potências de muitos corpos, assim como o que eu ocupo, de mulheres negras que produzem, das nossas existências estarem nas telas e sobretudo ter a possibilidade e acesso a arte”, destacou a atriz homenageada na noite que recebeu o troféu Barroco.
A realizadora e professora que coordena o projeto Pretança no curso de Cinema e Audiovisual do Centro Universitário Una, em Belo Horizonte, Tatiana Carvalho Costa, participou pela primeira vez da curadoria na seleção dos curtas.
Durante o evento, ela denunciou como o apagamento da presença negra e de trans no cinema influencia a construção de estereótipos incoerentes com a realidade. “O cinema nos constrói simbolicamente como uma ficção muito limitada, com poucos lugares possíveis para os nossos corpos negros. O conjunto de filmes selecionados, em especial os curtas, fazem novas modulações para eles, constrói outras possibilidades de ser com o cinema, provocando o próprio universo cinematográfico a se repensar”, destacou Tatiana.
Dos 806 filmes inscritos na 22ª edição, 181 tinham ao menos uma pessoa negra na direção. Dos 78 curtas-metragens selecionados, 23 diretores se autodeclararam pretos ou pardos. Eles mostraram a heterogeneidade dentro de uma ideia de negritude, retratando formas diversas de dizer da experiência de corpos negros no mundo.
Não à toa, essa presença esteve refletida nas premiações. O curta-metragem “Negrum3”, de Diego Paulino, definido pelo diretor como “um ensaio sobre negritude, viadagem e aspirações espaciais dos filhos da diáspora”, venceu no Júri Popular e o Prêmio Canal Brasil de Curtas. Já o Prêmio Helena Ignez 2019, dado a um destaque feminino, foi para a montadora Cristina Amaral por seu trabalho em “Um Filme de Verão”, de Jô Serfaty.
Foto Leo Lara-Universo Produção