Uma profissão, dois países: uma queniana vivendo no Brasil

Os desafios e o mercado de trabalho na visão de Priscilla Mungai

Por Samira Reis, Jornalista e modelo

O ano era 2014. Época em que Priscilla Nyambura Mungai foi selecionada para integrar a RHI Magnesita, após participar de um programa de trainee global conduzido pela empresa. Natural do Quênia, a engenharia industrial e mestranda em Ciências dos Dados chega ao Brasil com o novo destino: Belo Horizonte.

“Atualmente, trabalho na área de melhoria contínua. Cresci dentro da empresa até minha posição atual, como analista sênior. Trabalho em projetos de melhoria contínua nas fábricas da América do Sul. O objetivo é melhorar a eficiência da produção e também garantir a segurança no local de trabalho”, explica.

Uma das principais dificuldades no início, segundo Priscilla, foi o idioma. O Quênia é um país multilíngue, mas o inglês e o kiswahili são as línguas oficiais. Tanto essa barreira como a distância de familiares e amigos foram, ao longo dos meses, sendo contornados.

O apoio incondicional dos que ficaram estimularam a buscar novas oportunidades e experiências valiosas. “Quando posso visitar o Quênia, sempre volto para o Brasil bastante rejuvenescida e muito apreciativa das minhas raízes africanas e de como minhas experiências passadas são um dos principais fatores que têm e continuarão a contribuir com o meu sucesso. Por isso, espero poder me desenvolver e devolver ao meu país de alguma maneira”, diz.

Inserida em um meio ainda dominado por homens, a engenheira percebe que as brasileiras estão mais capacitadas quando se trata de acesso e oportunidades no local de trabalho quando comparadas às do país de origem.

No entanto, a luta por igualdade nesses espaços são semelhantes. “As mulheres do meu país lutam com os mesmos problemas enfrentados aqui: (especialmente em indústrias historicamente dominadas pelos homens), as diferenças salariais entre homens e mulheres, ter que gerir um lar e desenvolver uma carreira ao mesmo tempo e até mesmo o assédio sexual no local de trabalho. Em ambos os países, o local de trabalho está se tornando mais receptivo às mulheres por causa dos esforços que foram feitos por aquelas que vieram antes de nós. No entanto, ainda há muito mais que pode ser feito”, comenta.

Viver em terras brasileiras também proporcionou um novo olhar sobre ser negro fora do continente africano. A engenheira afirma que a raça de alguém no Quênia não é uma questão primordialmente discutida ou focada dentro da sociedade. No entanto, tem conhecimento de como esse assunto impacta na realidade do Brasil.

“Esta experiência me fez muito mais consciente do que significa viver a experiência negra fora da África, além de me fazer muito apreciativa do meu país, onde nunca precisei questionar se minha raça é um impedimento para uma boa educação, para oportunidades de carreira, ou até mesmo se eu me encaixo num padrão de beleza em termos de cabelo e cor de pele”, assinala.

Ver mais mulheres, consequentemente mulheres negras sendo reconhecidas nas respectivas áreas de atuação também é um sonho de Priscilla. A busca pela educação, o foco no potencial, e por acreditar na necessidade de um ambiente de trabalho diverso, fizeram toda a diferença para as conquistas. Mesmo que seja necessário romper barreiras.

Mais importante ainda foi o fato de não nos esquecermos de trazer outras mulheres conosco. Ao nos preparar para as oportunidades através do estudo e da prática, podemos provar que também somos habilidosas no que fazemos e que abraçar a diversidade não significa comprometer a excelência. Trabalhe o que for necessário e nunca duvide da sua capacidade de ser uma inovadora, uma líder ou uma fabricante de mudanças”, frisa.

Foto: Letícia Souza

 

 

 

 

 

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