Carlandréia Ribeiro – Atriz, arte-educadora, produtora cultural e artivista
É do trabalho árduo, mas sobretudo prazeroso, que nasce a cena. Árduo porque desde a fração do milésimo rompante do nascimento da ideia que passa em velocidade pela mente do artista até o ansiado dia da estreia, cada detalhe demanda extrema dedicação.
O mote pode vir de lugares inusitados. Da mais banal situação cotidiana, à mais complexa urdidura de mensagens.
O texto teatral, visto como meio de transmissão do desejo, pode nos contar da vida mais ordinária, como pode ser o vetor das mais graves e brutais denúncias. A partir dele, pode-se provocar ruídos que a sociedade talvez não almeje ver e escutar.
Não à toa, em momentos em que sociedades se inclinam ao fascismo, os atores, as artes e os artistas são os primeiros a sofrerem tentativas de silenciamento.
Uma sociedade em que os poderosos temem a cultura está terrivelmente ameaçada.
O teatro é o instante mágico onde fantasia e realidade ocupam o mesmo espaço de grandeza. Espaço onde a vida vivível se instaura enquanto jogo – too play! E do árduo se faz o prazer, o gozo coletivo entre atores e espectadores.
É a manifestação do sagrado – Evoé Baco!
Finalmente, o abrir das cortinas, o frisson nas coxias, a luz, os músculos aquecidos, o frio na barriga, o burburinho da entrada do público, o terceiro sinal…
Silêncio…
Cest Magic!
Merda!
O instante mágico estabelecido enquanto rito. Cerimônia em que o riso e a dor, o solene e o onírico acontecem em minutos de absoluta entrega. Uma força que pode mover mundos inteiros.
Toda essa magia, todo o rito ficou em suspensão com a necessidade de isolamento imposto pela pandemia. Nunca a frase “teatro é presença” fez tanto sentido em nossas vidas.
Pode-se reinventar os meios, apresentações no mundo virtual, mil plataformas, mas nada poderá substituir o calor da presença, da respiração compartilhada dentro do teatro.
O direito à presença clama por vacinas para todos. O direito à fruição artística é um Direito Humano.
Viva o Teatro!