Em um mergulho poético intitulado “Descruzei o Atlântico”, a talentosa Carlandréia Ribeiro, atriz, poeta e produtora cultural, desvela as camadas da própria existência em um fluxo de palavras que transcende o tempo e as fronteiras. Este poema é uma narrativa intensa, onde a jornada interior revela dores ancestrais, ecoa memórias e resgata as raízes esquecidas.
Ao compartilhar este poema, Carlandréia convida cada leitor a desatar os nós que os mantêm distantes de si mesmos, a cruzar oceanos emocionais e a retornar às profundezas das próprias lembranças. É uma celebração da autenticidade, da reconexão com as origens e da força das recordações que moldam quem somos.
Vivencie cada verso como uma viagem de autodescoberta, onde as palavras se entrelaçam para criar uma sinfonia única. Em “Descruzei o Atlântico”, a poesia torna-se uma ponte que conecta o passado, o presente e o futuro, convidando cada leitor a refletir sobre sua própria jornada interior.
Descruzei o Atlântico
Meu corpo vazou a fronteira e rompeu o véu do tempo
Em fluxo reverso revi o trajeto dos meus
Vi a dor escancarada que dilacera a carne
Ouvi os gritos de minha tataravó
Senti o cheiro e a náusea
Fui desfazendo as correntes
Nadei contra as marés e deparei-me com o porto da dolorosa partida
Desfiz todas as voltas em torno da árvore do esquecimento
Reentrei pela porta do não retorno
Matei a (des)memória com a força das minhas recordações
O retorno sempre desejado
Estive fora de casa por uma vida inteira
Descruzei o Atlântico e desatei o nó infame que me afastava de mim
Era preciso retornar às profundezas das lembranças
Provar do mesmo sal e do mesmo mel que os meus antepassados provaram
Fui refazendo a viagem dentro de mim, me reconhecendo
Me reconectando às pegadas marcadas no chão
Aos olhos das matriarcas
Aos entremeios dos caminhos
Eu precisei ouvir novamente a minha canção
Carlandréia Ribeiro, atriz, poeta e produtora cultural