O urbano e a cultura pelas lentes de Ricardo Laf

Por Samira Reis – Jornalista

Na infância, precisamente aos sete anos de idade, Ricardo saiu em busca da máquina fotográfica a pedido dos pais, a fim de registar uma celebração da família. O que aquela máquina era capaz de fazer? Eis que registros de planta, insetos, sombras foram captados até que Laf entregasse aos pais. No entanto, era um filme de apenas 24 poses, já esgotado pela criança curiosa.

Tal lembrança marca o início de uma trajetória entre o jornalismo e a fotografia, construída de forma técnica e sobretudo, afetiva. “Entre os motivos que me fazem amar a fotografia estão a desobrigação de ter que dizer e a possibilidade de dizer o que não há como ser dito por meio de palavras”, enfatiza ele.

Além dos registros de eventos que abrangem a cultura popular, a música, o teatro, a vida urbana também é constantemente capturada por Ricardo. Na plataforma digital Instagram, é possível contemplar as belezas da capital mineira e de outras preciosidades das suas andanças.

Por falar em redes digitais, a fotografia ganha novos contornos com a expansão de meios virtuais em que pessoas se expressam, principalmente por meio de imagens.

Esse caminho tem a contribuição da mudança dos telefones celulares para smartphones. No mesmo aparelho, é possível conduzir a foto, preparar a imagem e reproduzi-la para o mundo. Nesse entremeio, Laf alerta para uma consequência pouco abordada a partir desses avanços: “A maioria das pessoas perdeu a vontade de imprimir fotografias, já que elas estão disponíveis a um toque em uma tela de smartphone. Essa perda de materialidade de uma fotografia, coloca sob risco a perda de milhares de fotos em razão de algum problema técnico no dispositivo que fotografa e armazena a foto”, explica.

As ruas, os eventos eram parte da rotina de Ricardo, intensificada, por vezes, nos fins de semana. Com a Covid-19, o cenário mudou drasticamente: países fragilizados por mortes, a corrida pela vacina, desemprego, estagnação econômica, distanciamento social e máscaras.

Pouco antes dos primeiros registros da doença no Brasil, no início de 2020, Laf chegava à Islândia. De lá, viveu a complexidade da situação e, sobretudo, do país de origem. “A ideia era ficar dois meses por lá, mas a pandemia se alastrou e acabei ficando preso por lá por quase 5 meses até encontrar um voo que me trouxesse de volta ao Brasil. Mas, à distância, acompanhava os desdobramentos da pandemia no Brasil, a inépcia de um governo que subestimou a seriedade da Covid-19 e ainda publicava declarações em tom de bravatas todos os dias, a cada contingente de mortos registrados. O que me surpreendeu foi que os islandeses sabiam também o que se passava no Brasil. Um dia, um deles me perguntou: “Como um presidente daquele pode governar um país do tamanho do Brasil?”.

A retomada para o Brasil foi de não esmorecer, apesar da situação calamitosa e um governo desarticulado diante dos problemas. Reconhece, diante da situação, o privilégio de trabalhar em casa.

As saídas são para o estritamente essencial, sem descuidar dos protocolos sanitários. O desejo é de um retrato diferente e melhor para os brasileiros. “Uma fotografia que compreendesse, em sua composição, solidariedade, justiça e empatia, sem qualquer resquício do atual governo. Diante do que hoje vivemos, seria o melhor dos mundos”, diz esperançoso.

Ricardo Laf é o responsável pelo tratamento das fotos da Revista Canjerê.

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