A potência da cultura periférica em foco no Festival Toca na Favela

Por Naiara Rodrigues – Jornalista

Em sua segunda edição, o Festival Toca na Favela encheu os olhos de quem passou pelo CCBB BH entre os dias 10 e 20 de agosto. Com a proposta de promover conexões entre artistas de periferias de diversas linguagens artísticas, a programação gratuita contou com atrações de música, artes visuais, dança, cinema, moda e gastronomia.

A iniciativa nasceu na comunidade do Novo Cachoeirinha, região Noroeste de Belo Horizonte, por iniciativa do DJ Grabs, artista nascido e criado naquele complexo, a partir de um incômodo do idealizador. Enquanto um jovem de origem periférica, Grabs não via acessibilidade em grandes festivais da cidade em função dos altos custos de entrada ou alimentação e bebidas nos eventos, e também lhe perturbava a ausência de artistas e produtores periféricos integrando as programações desses eventos Por isso, ele decidiu criar um festival para celebrar a diversidade de expressões culturais da favela. “Trazemos diferentes estilos musicais, várias vertentes da dança e diferentes expressões artísticas que se encontram no festival. Nos atentamos para o protagonismo negro, de mulheres e LGBTQIA+ na iniciativa, com uma gestão de festival sensibilizada para lidar com esses marcadores”, explica DJ Grabs.

O festival que teve sua primeira edição em 2022, com um palco montado no bairro Nova Cachoeirinha, neste ano contou com 10 dias de programação com patrocínio do Banco do Brasil, e ocupou um dos principais centros culturais da Capital Mineira. Entre as atrações que passaram pelos palcos, estiveram nomes como o dos artista plástico Maxwell Alexandre, a antropóloga Janaína Damasceno e do diretor do filme Marte 1, Gabriel Martins. O público também vibrou ao som de artistas já consolidados da música mineira como Adriana Araújo, Mc Dodo, Iza Sabino, e pôde conhecer novos artistas como a MC Mel da Norte, Akin, entre outros. A exposição da artista Ana Paula Sirino evidenciou o talento dessa pintora autodidata nascida em Sabinópolis, no Quilombo do Torra, que revela com suas pinceladas cenas cotidianas que encantaram quem passou pelo foyer. 

De acordo com a curadora do festival, Ana Cecília Assis, a proposta dessa edição foi evidenciar o legado, a prosperidade e a fartura, que também são roupagens da periferia, de acordo com a curadora. “Para essa edição, superamos o discurso da falta e trouxemos a riqueza das vielas, a cultura presente em todas as instâncias da arte. Selecionamos artistas que superaram o discurso da escassez e estão navegando nas ondas da prosperidade, luxo e emancipação.”, explica a curadora.

Nos bastidores do evento, a produção também nomeada como “correria” – gíria usada para quem faz acontecer nas periferias – também foi múltipla e diversa. “Operamos com equipe composta majoritariamente por pessoas negras e de quebrada, pessoas LGBTQIAPN+ e pessoas que estão em outras frentes nas áreas da arte, cultura e música de BH. O evento gerou empregabilidade de uma parcela da população que, na maioria das vezes, é colocada em lugares subalternos”, conclui a coordenadora de produção Fredda Amorim, da Showme Produções.

Foto Yago Marra – Maxwell Alexandre e Ana Cecília Assis

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Rosalia Diogo

Jornalista, professora, curadora do Casarão das Artes Negras, chefe de redação da Revista Canjerê, Dra em Literatura, Pós-doutora em Antropologia.

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