África em São Paulo

                                             Por   Rosália Diogo Chefe de Redação da Revista Canjerê. Pós-Doutora em Antropologia da População Afro-brasileira. Gestora do CRCP Lagoa do Nado.

Jornalista. Pós-doutorada em Antropologia da População Afro-Brasileira. Coordenadora do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado. Chefe de redação da Revista Canjerê.

Este é o nome da Mostra, exposta no Museu da Imigração de São Paulo e que traz retratos de imigrantes africanos que vivem na capital. Ela reúne fotografias de Bob Wolfenson e entrevistas com quarenta e três pessoas do continente africano. Estão à Mostra, desde o dia 19 de maio, mais de cinquenta fotografias, vindas de vinte e um países, acompanhadas de textos com o perfil dos personagens. 

Destacamos, nesta representação, a presença imagética da senhora Mama Diop. Uma vida difícil e sem perspectivas levou Soda Diop a deixar o Senegal. Como refugiada, desembarcou no Brasil há quinze anos em busca de novas oportunidades.  Soda começou como faxineira em escolas municipais da cidade de São Paulo, sofreu racismo e preconceito até, finalmente, conseguir realizar o sonho de infância: se tornar uma estilista de sucesso. “Mama África”, como ficou conhecida em terras brasileiras por acolher refugiados. Ela vestiu até Elza Soares.

Ela comenta que estava muito difícil lá na África e também foi bastante complicado quando chegou no Brasil. Segundo ela: “Eu comecei como faxineira de uma escola municipal, mas a diretora teve problemas comigo lá, não gostava da minha cor. Me mudaram de escola e lá todos me receberam muito bem”, contou Soda. 

Depois que seu contrato como faxineira acabou, ela passou a vender bijuterias que comprava de chineses no entorno da famosa Rua 25 de Março e, até hoje, é grata ao gesto de um homem brasileiro que a deu R$ 100 por um par de brincos que valiam muito menos. “Rezo por ele todos os dias e queria reencontrá-lo”, disse”.

Soda vestiu a sua roupa e partiu para a rua vender as bijuterias. Certa vez, uma mulher a parou e perguntou onde ela tinha comprado o turbante e a senegalesa teve a ideia de, no dia seguinte, levar um de seus acessórios para vender. 

Hoje Mama África tem uma loja de tecidos e acessórios diversos, de matriz africana, na Praça da República, em São Paulo.

O texto de apresentação foi escrito por Jeferson Tenório e do ativista guineense Vensam lalá, sobre quem vamos fazer também um destaque, neste momento.

Recentemente, O Democrata informou que o modelo guineense Vensam Ialá liderou um dos 10 principais eventos do “Homem do Mundo” realizados nas Filipinas. A competição contou com seis representantes de seis países africanos, mas a Guiné-Bissau conquistou a medalha de prata, graças ao jovem modelo que atualmente reside no Brasil. Vensam Ialá nasceu e foi criado na Guiné-Bissau, mas, em 2014, mudou-se para o Brasil para estudar na Universidade Estadual de São Paulo. Além de modelar, é voluntário em uma organização chamada Peace Mission que trabalha com imigrantes em São Paulo. Ele também é apaixonado por futebol e jogou pelo time amador de Assis, em São Paulo, e pela Segunda Liga de Futebol da Guiné. Ele também é o vencedor do Sr. Africa Brasil.

Outro nome que ressaltamos nesta exposição é o do moçambicano Marcial Macome. Ele possui graduação em Teatro pela Universidade Eduardo Mondlane (2015), Mestre em Artes Cênicas, pela Universidade de São Paulo, Doutorando em Artes Cênicas pela USP e membro do Coletivo Legítima Defesa. Foi realizador das vídeo aulas do manual de ensino de Língua Portuguesa produzido pela Faculdade de Letras da UEM para a Universidade de Flórida no projecto African Languages Initiative. Foi monitor das disciplinas de Dramaturgia e Produção Gestão e Marketing na Universidade Eduardo Mondlane, foi professor da rede pública em Moçambique. Tem interesses nas áreas de: direção teatral, análise e crítica teatral, história da África, boa governação, dança e memórias afetivas, micro-estruturas do racismo, violência e estética, conflitos étnicos raciais e pan-africanismo. Membro da Rede Africana de defesa dos Direitos Humanos.

No dia 28 de maio, paralelo à Mostra, aconteceu o encontro Afrikanse, em que peças e assessórios de matriz africana eram comercializadas no entorno do Museu da Imigração. Além dessa exposição de produtos, vários artistas, músicos e dançarinos africanos se apresentaram no jardim do Museu durante toda a tarde e início da noite.

Enfim, vimos com muito bons olhos a iniciativa do Museu da Imigração de São Paulo, que é a de acolher respeitosamente a presença de negros africanos. Indubitavelmente, as ações desenvolvidas pelos africanos e essa iniciativa do Museu contribuem substancialmente para o processo de letramento racial do Brasil.  Esperamos que o racismo seja menos violento, desde que toquem pessoas que ignoram a valorosa contribuição dos africanos e seus descendentes na diáspora brasileira.

Referência Bibliográfica: Destacamos que para a produção deste texto, contamos com a pesquisa feita no site do Museu da Imigração e das agências de notícias que cobriram o evento.

Foto Rosália Diogo

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