Afropunk: de preto para preto

Por: Jaice Balduino Jornalista

Originário em 2005 por meio do documentário dirigido por James Spooner, o termo “Afropunk ou Afro-punk” se refere à participação de afro-americanos e de outros negros em subculturas punk e alternativas, especialmente nos Estados Unidos, onde essa cena era predominantemente branca. O Afropunk, nome que une afro, referência à cultura afrodescendente, ao movimento punk, apresenta o público-alvo do festival de música de que participam diversos cantores e os mais variados artistas de diferentes locais do mundo.

Considerado o maior festival de cultura negra do mundo, o Afropunk começou com um jovem punk, bi-racial, nascido em uma pequena cidade da Califórnia predominantemente povoada por pessoas brancas. James Spooner se mudou para Manhattan para cursar o ensino médio e lá se encontrou na cena underground de punk rock e hardcore. 

A partir daí, ele começou então a trabalhar como promoter de shows, DJ e escultor em Nova York. Com seus 20 e poucos anos, James começa a viver uma crise identitária: ser um dos poucos negros que ele conhece dentro da cena punk. Logo ele percebe que as questões que lhe afligiam também representavam a realidade de outros negros e assim surge o documentário independente Afro-punk, lançado ao mundo no ano de 2003.

O objetivo central de Spooner com o festival era reunir ao vivo aquela comunidade que se organizava a partir do fórum. Sem dinheiro para trazer grandes bandas da cena punk negra para o line up, o festival focava na reunião da comunidade: o que acontecia na plateia era mais importante do que o que se passava no palco.

As ações do festival hoje mesclam shows, apresentações musicais, intervenções poéticas, performances, debates e programação educativa (solutions sessions), feira de empreendedores negras e negros, mostras de filmes, além de conseguir reconhecidamente influenciar as tendências estéticas globais, valorizando a imagem do negro contemporâneo.

Afropunk Brasil

O festival veio com o objetivo de ecoar a potência musical, política e poética da negritude brasileira. Realizado no Centro de Convenções da capital baiana, o festival chegou ao Brasil em 2021 com transmissão online e trouxe shows do rapper Mano Brown dividindo o palco com Duquesa; Tássia Reis que se uniu ao Ilê Aiyê; enquanto a baiana Luedji Luna se apresentou com o Duo Yoún; a carioca Malía somou ao lado da Margareth Menezes; e, por fim, Urias com Vírus.

Em sua segunda edição, o evento reuniu mais de 30 atrações nacionais e internacionais em um encontro multicultural na cidade mais negra fora do continente africano: Salvador. O festival conduziu a força de um aquilombamento contemporâneo, transformando o ponto de encontro no qual o público preto expandirá o seu ritmo e cultura na cidade mais negra. Com shows de Mc Carol, forte nome do funk carioca, que esteve no palco com A Dama, representante do pagodão baiano; Ilê Aiyê com Tássia Reis, Urias com Vírus; ÀTTØØXXÁ com Karol Conká; Liniker, Emicida, Baco Exu do Blues, Psirico e a banda Black Pantera. Salvador fez cerca de 70 mil pessoas dançarem por 2 dias de muita música.

E agora, chegando em sua 3ª edição, o Afropunk aportou na Bahia, ocupando o Parque de Exposições com mais de 20 atrações, a maioria sendo apresentações especiais, como Alcione convidando a escola de samba Mangueira; BaianaSystem recebendo Patche Di Rima (Guiné-Bissau) & NoiteDia (Angola), Tasha e Tracie dividindo o palco com Tati Quebra Barraco, além de Carlinhos Brown tocando o álbum Alfagamabetizado (1996), IZA, Olodum, Majur e Djonga.

O evento é realmente um encontro do povo preto em que podemos ver todas as formas de amor, alegria, liberdade de estilo, cabelos de várias cores e formas. É uma verdadeira manifestação da nação preta fora da África, o que comprova o cuidado em fazer um festival de preta para preto.

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