Por Adilson Marcelino – É negro, jornalista, pesquisador de cinema e criador do site Mulheres do Cinema Brasileiro
Se é cinema brasileiro, brasileiro somos todos. Por mais que, durante décadas,
o mercado e o próprio Estado elegeram o eixo Rio-São Paulo como a geografia
para distribuição de recursos e como vitrine, a produção se ramificou por
várias regiões do país. E foi assim desde o começo. De Minas Gerais, as telas
legaram cineastas do porte de Humberto Mauro, reconhecido por muitos como o Pai
do cinema brasileiro, a Carlos Alberto Prates Correia, um dos mais vitais e
modernos artistas da nossa cinematografia.
O chamado cinema mineiro continuou fazendo bonito: Maurício Gomes Leite, Geraldo Veloso, Paulo Augusto Gomes, Helvécio Ratton, Rafael Conde, Tânia Anaya, Marília Rocha, Affonso Uchoa e Ana Carolina Soares são apenas algumas dessas belas páginas. E o cinema mineiro revelou para o Brasil, e já para o mundo, a Filmes de Plástico.
Criada em Contagem, em 2009, e formada pelos cineastas André Novais Oliveira, Gabriel Martins e Maurílio Martins, e pelo produtor Thiago Macêdo Correia, a Filmes de Plástico não só, no conjunto de seus filmes, colocou os corpos periféricos e, sobretudo, negros no mapa do cinema mineiro, como fez, a partir dessa escolha estética e, portanto, ética, todo um redimensionamento de protagonismo.
No coração do mundo, último filme da produtora lançado, mira sua lente para Contagem, onde tudo começou, e toda uma galeria de personagens nos é apresentada. Mais que suas histórias, que se entrelaçam, contaminam-se e se conversam, o que se vê, de ponta a ponta, é, mais que tudo, a restituição de uma aposta no humanismo. Não há objetificação, há sujeitos. Há humanidade em cada corpo, cada personagem, cada plano, cada frame. Tão escassa nas telas, e, sobretudo, fora delas.