E se essa mulher fosse de outra cor? Confabulações de uma sociedade dicotômica no filme Ditadura Roxa

Denilson Tourinho – Ator, mestre em Educação. Idealizador e curador do Prêmio Leda Maria Martins

Lançado em 2020, Ditadura Roxa é um curta-metragem que tem sido exibido em programações cinematográficas, nacionais e internacionais e alçado notoriedade como os prêmios de Melhor Atriz para Meibe Rodrigues pelo “Festivou Audiovisual Independente Brasileiro” (BR) e “Garoa Awards” (BR).

Rodrigues vivencia Yeda, personagem que conduz a trama, retrata uma sociedade segregada, na qual o status social é estruturalmente estabelecido por “marca”,* cor.

Nesse ponto de vista, Yeda é uma mulher verde que mantem a casa com a produção de alimentos caseiros, ao mesmo tempo em que cuida do marido adoentado.

Em 23 minutos, o filme apresenta um mundo sob o signo dos cidadãos privilegiados e dos desfavorecidos, respectivamente roxos e verdes, assim como imprime a remota possibilidade de promoção social de pessoa verde para a cor que tem lugar de favorecido. Mas a consciência e desejo de cidadão verde seria tornar-se roxo ou tornar “ex-tinta”, a diferença entre privilegiado e desfavorecido?

Ditadura Roxa reconfigura tensões acerca de raça e classe, gera fricção numa bifurcação da diversidade social, negrita um sistema fictício repleto de realismo e o resultado parece ser um convite para contemplar a distinta trajetória artística de Meibe Rodrigues, por meio de sua marcante Yeda.

O campo das artes em Minas Gerais segue semeando boas safras e, nos últimos anos, a sua produção de cinema tem rendido frutíferos destaques. Que seja longa a trajetória desse curta que daria um longa.

*Alusão à proposição “preconceito de marca” de Oracy Nogueira.

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