Por Júnia Menezes – professora, educadora e proprietária da escola de inglês Village School. Formada no Curso de Letras pela FUNEDI/UEMG
Nesta edição, a Seção África traz um depoimento da professora e proprietária da Village School, escola que fica na cidade de Divinópolis–MG, Júnia Menezes. Ela esteve recentemente na África do Sul e a convidamos para relatar um pouquinho da sua experiência pessoal naquele país. Júnia é professora de inglês dedicada em transformar o espaço em que vive por meio da educação, “Em minha atuação como educadora, mostro aos meus alunos a importância de saber fatos históricos reais, apresentar personagens importantes da nossa história a fim de criar neles o desejo de lutar por um futuro melhor, tal qual nossos ancestrais o fizeram” disse.
Nós, equipe da Village School, iniciamos nosso programa de intercâmbio neste ano de 2019 e o destino escolhido por mim não poderia ser outro que não no Continente Africano, mais precisamente África do Sul.
Uma excelente oportunidade para mostrar para as pessoas que a África é riquíssima em sua fauna e flora, mas que no que diz respeito à cultura também tem muito a nos ensinar sobre nós mesmos, nossas origens e ancestralidade.
Vivi momentos de intensa emoção estando em contato com nativos. Fiz questão de conversar com moradores locais para saber como viviam e quais eram suas perspectivas de vida. Há muitas pessoas que vivem muito bem, financeiramente falando. Mas, infelizmente, o número de pessoas que vivem em situação de extrema pobreza também é grande.
No entanto, são pessoas maravilhosas, cheias de vigor e alegria. Emocionou-me bastante ver como que com tantas privações, na maior parte do tempo, estão alegres e bem dispostas.
Visitei lugares fantásticos como o Museu da Escravidão (SlaveLodge) e pude sentir na pele e no coração, estando em uma réplica do navio negreiro, como nossos irmãos se sentiam, estando em um espaço em que caberiam no máximo 10 pessoas,mas em um número no mínimo 10 vezes maior de lotação, sem ventilação e onde não podiam sequer estarem de pé devido à altura do espaço. Foi angustiante demais.
Outro momento que me emocionou demais, foi num restaurante chamado Marco´s onde tive oportunidade de experimentar delícias da culinária africana e me divertir ao som dos tambores. Chorei muito por estar ali e sentir toda aquela energia maravilhosa.
Encerro minha sessão de belas recordações lembrando de minha visita a uma área bastante carente, do outro lado da grande Cidade do Cabo.
Tive a oportunidade de conhecer crianças incrivelmente inteligentes e espertas, e ouvir de seus pais sobre as dificuldades financeiras pelas quais passam e que, ainda assim, não deixam de ser alegres e sorridentes. Tocou meu coração quando uma mãe me disse que, às vezes, algumas crianças param de brincar e levam a mão até à barriga, lembrando, assim, da fome que sentem.
Certamente temos situações semelhantes a essa aqui bem próximo de nós. Mostrar a realidade do lugar de nossa origem possibilita-me expressar como poderíamos viver uma vida diferente, não fosse todo o processo de escravidão a que fomos submetidos.
A situação financeira e social na África é bastante precária, mas vale a pena olhar para o que temos de reflexos desse povo sofrido aqui mesmo, no Brasil. Vale refletir sobre o que é, como fazer para ajudar aqueles que estão mais próximos de nós. Mas sinto-me bastante tocada com o povo de lá, pois tudo poderia ser bem diferente