Roger Deff
Rapper de BH, jornalista com especialização em produção e crítica cultural
pela PUC Minas e Mestre em Artes pela UEMG
Heberte Almeida é um velho conhecido da cena musical independente de BH. Instrumentista e compositor exímio, o músico é um dos integrantes da banda Pêlos, autêntico símbolo do rock underground da cidade.
Enquanto a Pêlos é marcada por uma poética que traz feridas à tona ao tocar em temas sensíveis, como o racismo e a exclusão, em sua trajetória solo Almeida escolheu águas mais calmas, com letras que festejam a vida em família, falam de relações e, pra além do rock, as músicas flertam com o samba, o soul e o rap. O primeiro disco “Negro Amor” foi lançado em 2020, e era a estréia de Heberte à frente dos vocais.
E, diga-se, uma estréia digna, com um trabalho bem construído conceitualmente e com uma defesa artística apaixonante. “Fôlego” é lançado quatro anos depois, após um período em que o mundo viu tanta coisa ruir.
O álbum chega com esse desejo de respirar, com fome de vida; no caso do artista, é nítida sua vontade de procurar novos ares, dias mais ensolarados e coloridos, e é tudo isso o que o trabalho transparece com aura otimista que exalta a beleza e o talento de artistas negros, a exemplo da faixa “cútis”, uma excelente escolha para abrir o trabalho com homenagens a lendas como Fela Kuti e Curtis Mayfiled, em clima festivo.
Outros destaques são a dançante e radiofônica “Estardalhaço” e a balada romântica “Intangível”, cuja letra fala da distância entre duas pessoas e faz referências aos dias pandêmicos, nos quais o isolamento era um mal necessário.
Nesse segundo trabalho, Heberte se mostra mais seguro, como compositor e intérprete deixando ainda mais evidentes os caminhos da sua identidade musical. É um disco bonito, feito para um tempo em que ver o mundo através de lentes mais otimistas é questão de sobrevivência.
Fôlego traz as participações especiais de Elisa de Sena, Shabê, Michelle Oliveira e Anna Lages e conta com a produção de Leonardo Marques, do renomado estúdio Ilha do Corvo
23ª edição