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Diversidade nos palcos do FIT-BH

Por Naiara Rodrigues, jornalista e assessora de imprensa

Pensar o corpo como uma língua e o seu lugar na construção de discursos. Esta foi a ideia do conceito “corpos-dialetos”, proposta pela curadoria de Grace PassôSoraya Martins e Luciana Romagnolli junto de mais três curadores-assistentes para a 14ª edição do FIT-BH, Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte. “Fomos atrás de produções que respondessem estética e criticamente problemas atuais do Brasil, em que diferentes pessoas pudessem se sentir reconhecidas nos palcos por questões de cor, gênero, raça, sotaques”, destaca a curadora Soraya Martins.

Na Mostra Nacional, por exemplo, a produção nordestina correspondeu a 66% dos trabalhos apresentados. Entre eles estava o pernambucano “A Gente Combinamos de Não Morrer”, inspirado no conto homônimo de Conceição Evaristo, performance dedicada à constituição de situações, rituais e processos coletivos de elaboração das feridas necropolíticas. “Tentamos fazer um festival que ampliasse a noção de teatro brasileiro que, muitas vezes, é pensado numa perspectiva eurocentrista. Buscamos teatro feito por mulheres, por nordestinos, por trans, por pessoas que estão nas periferias com suas potências criadoras. A gente mudou o foco do olhar, para expandir, sair do eixo Rio-São Paulo”, destaca.

Para a curadora, o festival foi político e democrático. “O FIT levou para os palcos teatros políticos feitos com uma excelência estética muito grande porque muitas vezes a gente fala de teatro político e as pessoas acham que não tem estética”, afirma. Ela cita a peça “Unwanted”, da performer ruandesa Dorothée Munyaneza, feita a partir de relatos coletados por ela de mulheres que foram vítimas de estupros cometidos como arma de guerra durante o genocídio dos Tutsis. “Foi discutido política, mas esteticamente, com música eletrônica, cantigas em dialeto ruandês, dança, e performance corporal incrível, fruto do seu estudo em torno do teatro contemporâneo. É inegável falar que tem uma qualidade estética naquele trabalho”, avalia Soraya Martins.

O evento reuniu um conjunto de trabalhos nacionais e internacionais que fez seu percurso na contramão de uma arte eurocentrada, trazendo para os palcos o debate sobre questões de gênero, classe e étnico-raciais. Foram 59 apresentações com trabalhos de doze países e oito estados brasileiros, além de oficinas, mostra de cinema e outras atividades que contaram ao todo com público estimado de 25 mil pessoas.

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Naiara Rodrigues

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais, atua como especialista em comunicação no setor cultural há dez anos. Colabora para Revista Canjerê desde 2017. Já atuou como repórter na Campanha Libertas, Projeto Preserva e Rádio UFMG Educativa. Co-autora do livro-reportagem “Diário de Bloco” (2015) sobre a retomada de blocos de rua no Carnaval de Belo Horizonte.

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