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Orientação afirmativa para enegrecer a pós-graduação

Por Naiara Rodrigues – Jornalista e assessora de imprensa

Apesar de serem a maior parte da população do país (52,9%), os estudantes negros representam apenas 28,9% do total de pós-graduandos no Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita em 2015, pelo IBGE.

Em maio de 2016, a publicação de uma portaria pelo Ministério da Educação incentivou o debate de cotas na pós-graduação para que instituições de ensino criassem condições para promover a inclusão de negros, indígenas e pessoas com deficiência.

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) implementou uma política de ações afirmativas desse gênero, em abril de 2017, que passou a valer para o processo seletivo deste ano.

Apesar de as medidas serem um avanço, ainda falta muito para se alcançar a igualdade na pós-graduação. Iniciativas não-institucionalizadas têm auxiliado na promoção dessa mudança.

No fim do ano passado, foi criado o projeto Orientação Afirmativa com o objetivo de preparar candidatos negros que pretendem ingressar na Pós-Graduação em Comunicação Social da UFMG, em nível de mestrado e doutorado.

O grupo de estudos ajuda estudantes com matérias essenciais para o processo seletivo, como inglês instrumental, metodologia de pesquisa, estudo dos textos indicados no edital da seleção e preparação para a entrevista.

A iniciativa independente veio da união das alunas que já se encontram na pós da instituição, Pâmela Guimarães, Mayra Bernardes e Lucianna Furtado que sentem de perto a falta de representatividade na academia. “A cada ano, as turmas de mestrado e doutorado ingressam com aproximadamente três pessoas negras, quando muito. No departamento, temos apenas três professores negros. Então, é mais que urgente subir e puxar os nossos pares para cima”, destaca Pâmela Guimarães.

A criação do grupo se baseou no fortalecimento mútuo – uma das principais propostas do movimento negro e do feminismo negro – e o projeto só foi possível com a soma de conhecimento e vivência das três alunas. “Lucianna e Mayra são fluentes em inglês, e eu não. Com isso, conseguimos acrescentar esse tópico de ensino.

A prova de proficiência em língua estrangeira é uma exigência para ambos os níveis, mestrado e doutorado, e talvez seja um dos maiores empecilhos para quem não teve condição socioeconômica de estudar outro idioma”, ressalta Pâmela.

A política de reserva de vagas para candidatos negros atinge apenas a classificação de candidatos já aprovados em todas as etapas. “O processo seletivo manteve algumas medidas que privilegiam estudantes de classe média e egressos da própria UFMG como a proficiência em idioma estrangeiro (etapa eliminatória) e a dinâmica de escolha dos planos de estudos e projetos de pesquisa, vinculada a autores e perspectivas específicas, desproporcionalmente acessíveis para quem já se encontra inserido na universidade e nos grupos de pesquisa.

Considerando que esse cenário limita o acesso de pessoas negras à pós-graduação, nossa iniciativa de Orientação Afirmativa pretende apoiar os candidatos negros e suas propostas de pesquisa para que possam concorrer em pé de igualdade”, conclui Lucianna Furtado.

O grupo estende a orientação necessária para lapidar suas propostas de pesquisa e adequá-las ao formato do Programa, em uma tentativa de minimizar as disparidades, para contribuir tanto no acesso de candidatos negros à Pós-Graduação em Comunicação como na formação de professores negros.

Além do apoio com os estudos, o projeto faz uma campanha de arrecadação virtual para arcar com os custos do processo seletivo como as taxas de inscrição do processo e da prova de proficiência em idioma estrangeiro (que têm gasto médio de 260 reais, por estudante).

O grupo chegou a receber 60 pedidos de inscrição e acompanha atualmente 13 pessoas, sendo uma para o Doutorado e 12 para o Mestrado. De acordo com as integrantes, essa primeira turma é formada em sua a maioria por mulheres. “Historicamente, as mulheres negras tem sido a parcela da população mais negligenciada pelas políticas públicas e, consequentemente, são minoria na academia e em outros espaços de poder e conhecimento, mesmo que possuam um ponto de vista privilegiado para estudar questões importantes da nossa sociedade.

Por isso, acreditamos que trazê-las para esse espaço possa ocasionar não só ganhos individuais, mas, também, coletivos com o poder de transformar a nossa realidade”, afirma Mayra Bernardes. Conheça mais sobre o projeto em: orientacaoafirmativa.wordpress.com

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Editorial Revista Canjerê

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