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A África de Fela Kuti

Imagem do Felady 2024. Designer Leo Olivera
Designer: Leo Olivera

Equipe Casarão das Artes Negras, a partir de pesquisas do Dj Leo Olivera

O Casarão das Artes Negras reverencia e rende tributos ao músico e ativista político Fela Kuti, anualmente, desde 2013. Em nosso entendimento, pessoas combativas como ele não morrem.  Houve uma lacuna nessa celebração entre 2020 e 2023, no período da pandemia que contribuiu para que essa agenda fosse interrompida.  Não obstante, em 2024 voltamos a chamar o público para saudar Fela. 

O nosso FELADAY ocorreu no dia 12 de outubro, no Brejo das Sapas. Vale a pena destacar que Fela Kuti nasceu em 15 de outubro de 1938, por isso o dia dele – FELADAY – ficou consagrado nessa data e as celebrações acontecem nesse dia ou em um dia próximo. O nigeriano Olugbenga Fayenwo e o Dj e pesquisador Léo Oliveira conduziram a agenda, levando informações sobre o ativista, sendo que Oliveira tocou bastante afrobeat. Fela Kuti (1938-1997) foi um multi-instrumentista nigeriano, músico e compositor, pioneiro do gênero musical Afrobeat, ativista político e dos direitos humanos. Durante o auge de sua popularidade, ele foi saudado como um dos mais “desafiadores e carismáticos artistas musicais” da África.

Nasceu em Abeocutá, estado de Ogum, na Nigéria, em uma família de classe média alta do ramo ebádos Iorubás. Sua mãe, Funmilayo Ransome-Kuti, foi uma ativista dos direitos da mulher nigeriana atuante no movimento anticolonial

Seu pai, reverendo Israel Oludotun Ransome-Kuti, um pastor protestante e diretor de escola, foi o primeiro presidente da União Nigeriana de Professores e tornou-se um político de considerável influência. Fela mudou-se para Londres em 1958 com a intenção de estudar Medicina, mas acabou decidindo estudar música no Trinity College of Music. Em 1963, Fela voltou para a Nigéria, criou a banda Koola Lobitose e trabalhou como produtor de rádio para a Empresa Nigeriana de Transmissão.

Fela Kuti foi um multi-instrumentista nigeriano, músico, por isso compreenderia melhor a luta de sua mãe pelos direitos dos africanos que estavam sob o regime colonial, assim como o apoio que ela dava à doutrina do Pan-Africanismo exposta pelo ativista ganense Kwame Nkrumah.

Essas ideias também o inspiraram a criar seu próprio estilo musical, que ficaria conhecido como Afrobeat, uma mistura do Jazz estadunidense com o Rock Psicodélico e o Highlife da África Ocidental. No começo dos anos de 1970, ele criou uma comuna criada nos arredores de Lagos e proclamou sua independência formando a República de Kalakuta

Era formada por um conjunto de casas cercadas por arame farpado. O local abrigava um estúdio musical, sua família e membros de sua banda, a Africa 70. A declaração de independência enfureceu o regime militar, então liderado por Olusegun Obasanjoque que controlava o país. À medida que crescia sua popularidade, mais incomodado ficava o regime militar. O lançamento do álbum “Zombie”, em 1977, cuja canção homônima comparava o exército nigeriano a zumbis que não pensam e só obedeciam ordens foi a provocação final.

Na noite de 18 de fevereiro de 1977, 1.000 soldados do exército nigeriano montaram cerco em Kalakuta, invadiram o lugar, espancaram os homens e estupraram as mulheres. A mãe do músico foi arremessada do segundo andar de um prédio e acabou morrendo meses depois em decorrência dos graves ferimentos que sofreu.

Fela Kuti teve uma fratura no crânio e foi levado preso enquanto testemunhava sua república em chamas. A República Kalakuta foi incendiada e o estúdio, instrumentos e gravações originais de Fela foram destruídos. Ele foi preso por um tempo e depois de liberado foi para um período de exílio em Gana. 

Em 2 de agosto de 1997, o lendário músico nigeriano, compositor, multi-instrumentista e ativista de direitos humanos Fela Kuti morreu aos 58 anos. Kuti dedicou a sua vida a combater a desigualdade, a injustiça e o imperialismo cultural por meio da sua música.

23ª edição

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Rosalia Diogo

Jornalista, professora, curadora do Casarão das Artes Negras, chefe de redação da Revista Canjerê, Dra em Literatura, Pós-doutora em Antropologia.

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