Qual é a importância de reconstruir as narrativas que se propõem a representar o público negro LGBTQIA?
Por Well Mendes, jornalista, fotógrafo, designer e produtor audiovisual
Você provavelmente viu uma pessoa negra ou LGBTQIA em algum filme que assistiu recentemente. Em resposta à demanda por representatividade midiática – ou pelas relações mercadológicas – os tipos de representações aumentam, mesmo que lentamente. Entretanto, muitas questões ainda precisam ser discutidas pelo cinema ao retratar uma pessoa negra LGBTQIA.
O cinema tem aspectos importantes a serem considerados durante o ato da representação. Para além do entretenimento, existem códigos na linguagem e na forma de narrar que criam impressões sobre o desconhecido e reforçam conceitos estabelecidos sobre indivíduos, grupos, lugares etc.
Ao aliar as características marcantes do cinema na construção identitária aos dados de violência no Brasil, percebe-se a infeliz necessidade de se discutir formas de representar, utilizando a linguagem cinematográfica na reconstrução de conceitos estabelecidos para esse recorte. De acordo com o mapa da violência, a cada 23 minutos um jovem negro morre no Brasil. No mesmo dia, a cada 19 horas, uma pessoa LGBTQIA morre, segundo o Grupo Gay da Bahia.
É necessário que o cinema se atente para as relações que vão além da tela e que criam e desatam os laços do convívio social. Na relação cíclica de influência entre a sociedade e o cinema, é importante se apropriar de realidades distintas e alarmantes – como o recorte racial na população LGBTQIA– e trabalhar para ter representações legítimas. Precisamos resistir e existir em espaços nos quais ainda não fomos representados, mas que estamos alcançando diariamente.