Isidoro um Homem de Quilate!

Marcial Ávila, artista plástico, poeta, membro do conselho editorial da Revista Canjerê

O som de tiros ecoou pelas serras diamantinas.
Fez estremecer os mais distantes lugarejos.
Os corações se fizeram aflitos,
tanto dos quilombolas ocultos nas entranhas do espinhaço,
quanto dos brancos que ostentavam títulos de nobreza.
Muitos mais tiros ribombaram nas brenhas…
e o silêncio após.
O Arraial do Tejuco contrito,
mal respirava aguardando o porta voz:
– Sim, prenderam Isidoro!
– Prenderam Isidoro?
E lá veio ele arrastado pelos becos e vielas
sob os olhares orgulhosos dos seus algozes.
Foi açoitado, martirizado em praça pública.
– Morre, negro maldito!
Gritava a soldadesca.
– Vive, Isidoro, pelo amor de Deus!
No entorno, preces confusas subiam aos céus.
E velas foram acesas em oratórios particulares,
uns pediam vida, outros morte para ele.
Afinal, muitos destinos estavam nas mãos amarradas de Isidoro.
Seus olhos, mesmo que embaçados pela dor,
ainda podiam ver através das treliças,
velhos amigos de negócios ocultos nas sombras.
Ninguém ousou defendê-lo.
Detrás dos arvoredos, rostos negros como o seu
choravam pela sua dor.
Apenas em pensamentos diziam…
– Ele é inocente,
– Deus o acuda!
– Valha, Nossa Senhora do Rosário, mãe dos pretos!
– Fala, escravo galé!
– Entrega de uma vez!
– Com quem contrabandeava as pedras?
Mas nem uma palavra,
Nem uma palavra saía dos seus lábios ensanguentados.
– De quem eram os diamantes?
– Com quem os negociava?
Ele sabia de onde vinham os calhaus,
os tirou com as mãos, dos grotões da serra
e das veias dos rios.
Se a terra teve a confiança de entregar a ele
as mais belas pedras…
– Eram seus!
– Os diamantes eram seus,
não os roubou de ninguém.
Era um homem honrado.
Podiam ter escravizado seu corpo,
mas nunca sua alma.
Ninguém tiraria seu título.
Ele era o maior batedor dos sertões,
tinha faro pras riquezas,
era o senhor dos diamantes!
E na sua honradez,
não delatou ninguém.
Nem brancos nem pretos,
Nem justos nem ímpios.
E mais chicotada!
– Morreu Isidoro!
– Morreu Isidoro?
Morreu o inocente,
levou consigo muitos segredos do Tejuco.
Com ele muitos perderam o lucro fácil.
Outros tantos respiraram aliviados.
Mas muitos que foram libertos por ele
prantearam sua morte.
Negros cativos ou forros das mais diversas línguas e crenças,
se uniram em oração.
Todos os sinos repicavam uníssonos em agonia,
Talvez chorassem as lágrimas que não caíram dos olhos dele.
Parece que aquele burgo se tornou em instantes
uma imensa irmandade cristã.
Mal sepultaram seu corpo no burgalhau,
Ouviram gargalhadas na serra.
Na serra do Isidoro!
Ele era novamente livre,
como sempre o foi em seu coração.
Mas muitas almas do tijuco se tornaram cativas,
Sob o julgo dele.
Sobre seus tesouros enterrados, ele gargalhava.
Com olhos despertos, podia ver a ganância pairando sobre o arraial.
Ri, Isidoro!
Ri, Isidoro!


De quem será sua fortuna enterrada?
Quem herdará sua estrela?
E depois dele, mais ninguém…
Ninguém teve seu faro pra diamantes, sua sabedoria.
Ele entendia da terra, sabia onde procurar.
– Isidoro, o mártir.
– O mártir?
– Não! Não!
– O escravo Isidoro?
– Não!
O homem honrado de coração nobre,
Que tinha alma livre!
Que não morreu como delator
e não traiu a confiança dos seus.
Levou a verdade trancada em seu coração flagelado.
Ele foi o maior garimpeiro das gerais.
Senhor do distrito diamantino.
Virou intocável, virou lenda, é imortal!
Dizem que ainda hoje anda pelo beco.
O Beco do Isidoro!
Que tem poder de manipular as almas gananciosas
que ambicionam seus tesouros enterrados.
E até lhes aponta falsos caminhos.
Mas ele sempre soube onde estavam os diamantes.
Sempre soube!
Afinal ele era Isidoro,
O grande garimpeiro,
o maior!
Aquele que com diamantes libertou corpos e almas do seus iguais.
Um homem nobre, um homem de quilate!
Isidoro!

Ilustração: Marcial Ávila

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Thiago Xavier

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