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O resgate do encontro a partir das tradições populares

Foto: Joice Sena

Naiara Rodrigues
Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e co-autora
do livro-reportagem Diário de Bloco, sobre o carnaval de Belo Horizonte

As culturas de tradições populares têm um papel fundamental no fortalecimento dos laços coletivos, promovendo trocas que vão além do ambiente virtual. Em tempos em que as relações se tornam cada vez mais mediadas por telas e mensagens instantâneas, experiências presenciais, como as oferecidas por festas tradicionais e manifestações culturais, resgatam a vivência do encontro e o senso de comunidade. Esse contato reforça a identidade local e desperta memórias compartilhadas, valorizando a transmissão de saberes e rituais que enriquecem o vínculo social e emocional entre as pessoas.

Durante o Tabuleiro Jazz Festival, realizado em agosto, no distrito de Conceição Mato Dentro, o Grupo Folia da Alegria reuniu pessoas em uma oficina para contar a história da manifestação cultural popular da Folia de Reis, as canções e etapas que envolvem o ritual dos cortejos. Depois de uma roda de conversa, foi a vez de colocar em prática e fazer uma retomada da tradição no distrito com um cortejo, que passou pela igreja e terminou no campo onde estava o palco principal do evento.

“Infelizmente é uma tradição que está se perdendo, pois muitas pessoas que faziam, até pela idade mais avançada, estão partindo. A última vez que teve Folia de Reis em Tabuleiro foi no século passado, então a ideia é reacender essa chama, pois é uma tradição que só precisa de assoprar a brasa para acender na comunidade e, quem sabe, não retorna a folia de reis aqui”, destacou o oficineiro Cá Ribas, do Grupo Folia da Alegria, que mora no distrito há um ano.

“Fomos convidados para fazer a oficina e o cortejo, e foi surpreendente que quando procuramos o pessoal da Igreja eles se dispuseram a abrir a porta para a gente e, durante a passagem por lá, ela deu um depoimento dizendo que o pai dela fazia folia aqui e que ela não via há mais de 20 anos. Então é algo interessante que resgata memórias simbólicas que representam um momento de fé, união, celebração”, destacou Djaya Dev que também integra o Grupo Folia da Alegria.

O morador de Conceição do Mato Dentro, Piter César do Nascimento, de 40 anos, participa das louvações da Folia de Reis em Milho Verde e ao ficar sabendo da oficina decidiu participar para fortalecer a retomada da tradição no distrito. “A Folia de Reis é uma tradição popular que precisa ser valorizada, e que deve voltar. Não precisa ser exatamente do jeito que era há anos atrás porque as coisas se transformam, mas é uma manifestação muito saudável e tradicional, então as coisas boas temos que abarcar e o que for ruim da tradição a gente deixa de lado. Hoje senti que é uma energia muito grande que está acontecendo, de pessoas que querem retomar essa tradição por aqui”, destacou.

Esse é o mesmo sentimento da arte-educadora Ingrid Ribeiro, uma artista de Mariana (MG) que é brincante, poetisa, contadora de histórias, bailarina e pesquisadora das danças populares brasileiras. Ela contou para a Revista, durante sua participação da Expo Favela Minas Gerais 2024, que se inspira em músicas tradicionais de reinados e folias de reis, que aprendeu desde criança, em suas apresentações, fazendo algumas adaptações ao trazer para os dias de hoje.

Ingrid Ribeiro participou da feira com a sua empresa “Baú Recontando”, um projeto criado em 2019, que oferece recreação, contação de história para diversos públicos, com destaque para o infantil e o+ o idoso. A empresa conta com uma parceria com um coletivo familiar e comunitário reunindo artesãs e costureiras que confeccionam alguns dos brinquedos e figurinos das apresentações. Desde 2023, o grupo também conta com uma banda musical infantil. A artista fez algumas apresentações para as crianças locais, que se divertiram com músicas e brincadeiras.

23ª edição

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Rosalia Diogo

Jornalista, professora, curadora do Casarão das Artes Negras, chefe de redação da Revista Canjerê, Dra em Literatura, Pós-doutora em Antropologia.

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Sol Brito é Fotógrafa do Casarão das Artes e da Revista Canjerê. Fotógrafa profissional e professora de Educação Infantil da Rede Municipal e Educação de Belo Horizonte.