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Ubuhle: quilombo da beleza negra no coração da Savassi

Por Naiara Rodrigues – Jornalista

Em uma das áreas mais elitistas da capital mineira, na rua Tomé de Souza, está reservado no número 932, sala 205, um espaço dedicado à beleza negra: a Ubuhle. Lá é possível encontrar corte e hidratação de cabelos, design de sobrancelhas, tranças e penteados, além de serviços oferecidos por uma rede de parceiros que incluem estética corporal, massagens e limpeza de pele, tatuagens, depilação, manicure, entre outros.

O nome do salão vem da língua bantu e significa beleza, bondade e excelência. Ele foi escolhido por Aline Tomaz, sócia-fundadora do espaço, ainda quando atuava como sobrancelhista em atendimentos domiciliares ou em espaços colaborativos como o Coletiv’Art Handmade, que reunia uma loja de artesanato e serviços, próximo ao local onde hoje é o salão. Nele, ela teve sua primeira experiência de atendimentos na região e foi onde conheceu outra sócia-fundadora da Ubuhle, Rafaela Xavier, que atua como trancista.

A decisão de abrir o espaço veio do fechamento do coletivo. As amigas tiveram a ideia de montar um empreendimento próprio, em 2018, trazendo os serviços de beleza para o público negro como carro-chefe.

O racismo da região fez com que inicialmente enxergassem como um erro a escolha do local, mas essa ideia foi ressignificada com o tempo. “A Savassi em si não tem nada voltado para pessoas negras. Enfrentamos muito racismo de pessoas que nos maltrataram e maltratam nossos clientes. Hoje vemos o fato da Ubuhle ser o único salão afro na região como algo positivo porque a gente se enxerga como um ponto de resistência, e acaba sendo também um espaço político”, afirma Aline.

O espaço não se limita a prestação de serviços, ele também promove encontros e eventos para discussão sobre temáticas da negritude. “Desde que começamos, passamos a ter mais visibilidade e também a ser procuradas por pessoas que têm interesse nesses debates. Já promovemos rodas de conversas sobre temas como afro empreendedorismo, aromoterapia e fito energética. O maior evento que realizamos foi o Pele Negra, que trouxe convidados para debater questões da negritude sob a perspectiva da estética negra, como a solidão da mulher negra, a hiper sexualização do homem negro e como nossa estética é uma forma de resistência e implica várias áreas da nossa vida”, enfatiza Aline.

Além disso, o espaço recebe constantemente oficinas para cuidados, amarrações de turbantes, entre outras iniciativas que dão visibilidade a culturas de matriz africana.

Para a empreendedora, o trabalho desenvolvido tem uma grande responsabilidade: mais que um momento de reconhecimento da beleza negra, ele devolve a autoestima e ajuda clientes de todas as idades a fazerem as pazes consigo mesmas.

“Diariamente entram clientes que falam que sempre acharam que seu cabelo era ruim, que sempre quiseram que ele fosse de um outro jeito. Por exemplo, 90% das nossas clientes que vão trançar cabelo estão em um momento de transição capilar, com metade do cabelo alisado com produtos químicos. Elas acabam nos encontrando como uma forma de apoio, inclusive para obter informações essenciais nesse processo”, destaca Aline.

“Vemos como as pessoas negras estão constantemente brigando com a sua estética, passando por processos que nós já passamos e tentamos acolher da melhor forma a todas. Para mim, ficou mais emblemático este processo quando me vi dentro de um lugar elitista fazendo um espaço para receber pessoas negras que já vêm desacreditadas e odiando a si mesmas, e saem da Ubuhle outra pessoa”, afirma Aline, destacando o potencial transformador do espaço.

A Ubuhle também oferece produtos cosméticos e artesanais desenvolvidos por produtoras, mulheres da região de BH. A proposta é oferecer para os clientes produtos de qualidade e sustentáveis e fortalecer o empreendedorismo feminino.

No sábado, dia 27 de junho, o empreendimento comemora um ano de existência e realiza um evento de confraternização, às 18h. A entrada é gratuita e aberta ao público.

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Editorial Revista Canjerê

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